Feira do Produtor de Vicente Pires
Frutas e verduras vistosas para a clientela. Famílias fazendo compras e famílias vendendo frutas, verduras e temperos dos mais variados tipos. Muita cor, muito cheiro. Gente que planta, colhe e vende, gente que revende. Gente de todo o Distrito Federal circulando. É mais um fim de semana na Feira do Produtor, na
Colônia Agrícola Vicente Pires(1). Pais e filhos negociam com a clientela. São feirantes que já estão no ramo há muito tempo e novos feirantes, que às vezes cresceram no ramo, ajudando os pais. Muitos são herdeiros que se revezam nas bancas.
Principalmente aos sábados, feira recebe clientela de toda parte do DF |
Mais à frente, em uma barraca de milho, Antônio de Deus Filho, 70 anos, corta espigas e prepara o produto para a venda. A filha, Marilza de Deus Filho, 27, faz a transação com os clientes. Ele trabalha na feira há 10 anos; ela, há sete. Ambos moram em Vicente Pires. “Minha filha começou me ajudando, mas hoje eu passei o negócio para ela. Em vez de eu ser o chefe, ela é quem manda agora”, brinca Antônio. “Tem muitas barracas assim. Isso é comum por aqui”, completa.
Marilza lembra de como começou. Conta que os irmãos mais velhos ajudavam o pai, mas conseguiram um emprego melhor em um açougue e Antônio ficou só. Ela resolveu dar uma força e não teve dificuldade em pegar o ritmo do trabalho —nos fins de semana, quando passam pela feira de 8 mil a 10 mil pessoas, é preciso estar disponível das 5h às 16h. E o peso só aumentou quando a banca passou a ser responsabilidade dela. “Hoje eu cuido de tudo e meu pai me ajuda. É preciso administrar, tem que comprar a mercadoria, não deixar faltar. Tudo isso passou pra mim e é um trabalho de que eu gosto muito. Estou acostumada com esse ambiente”, resume.
Outro pai que começou a passar o negócio para os herdeiros é Antônio de Moura Dourado, 58 anos, que vende alho. Ele trabalha com o filho, Germano Coelho de Moura Dourado, 31, há seis anos. “Aqui sempre foi um bom lugar para trabalhar. Com o tempo, vi meu filho tomar a frente nos trabalhos por vontade dele”, conta. Germano não hesita e diz que, se o pai se aposentar, ele assume o trabalho. “Acho legal o filho assumir o negócio do pai. Trabalhamos juntos há muito tempo. Às vezes tem até um ‘nervosismo’, mas isso passa”, comenta.
Juvenal Bezerra (D) divide com o filho, Luan, a tradição da revenda de frutas: "A taxa da banca é ele quem paga, mas estamos sempre juntos" |
Mas nem todos os pais esperam que os filhos assumam os negócios da família. Muitos têm outros planos, principalmente quando os meninos são mais novos. Luís Erivan da Silva, 50 anos, já está na Feira do Produtor há 14 anos. Ele é feirante e produtor. Planta quiabo, jiló, mandioca, vagem e pimentão. Arrendou uma chácara na Colônia Vicente Pires. Os filhos às vezes o ajudam no trabalho, mas não na feira. “Tenho três filhos. Meu plano é que eles estudem, se formem. Trabalho por eles. Além disso, eles concordam comigo. Nem todos os filhos herdam o negócio dos pais na feira, mas o negócio é sempre familiar”, observa.
Jamiro Pereira pensa como Luís. Ele explica que o trabalho na feira dá condições de custear os estudos dos filhos em uma universidade — foi assim que ocorreu com seus dois filhos. “Isso acaba acontecendo, eles se formam, vão viver a vida deles de um jeito diferente. Nem sempre os filhos costumam ficar na feira”, conclui.
1 - Desvio de função
As chácaras da Colônia Agrícola Vicente Pires eram destinadas à produção de legumes, verduras e hortaliças. Essa produção deveria reduzir a dependência do DF de produtos agrícolas de outros estados. Porém, nos últimos 20 anos, os lotes rurais foram fracionados em centenas de terrenos urbanos. A feira também perdeu produtores. Hoje, menos de 40% dos feirantes produzem a própria mercadoria.
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